Falar-se de história num mundo que cada vez mais acelera a velocidade dos acontecimentos pode parecer um desperdício. Não é. Precisamente por causa desta velocidade com que vivemos os dias de hoje e que tanto nos faz atropelar cada momento a ponto de não vermos o caminho que percorremos, a história é necessária: para nos dar lastro, para nos fornecer pontos de referência, para nos dar algo em comum – o nosso passado – neste mundo em que cada vez mais somos diferentes. A história é um factor de coesão social. Poderemos divergir quanto aos caminhos a seguir mas já o mesmo não acontece quanto àqueles já percorridos. Foi a história que nos trouxe a todos até aqui. De uma forma convergente.
Falar-se de história e desenvolver-se um projecto de história em Trás-os-Montes, em Macedo de Cavaleiros, também pode parecer um desperdício. Não é. Apesar de estarmos no interior, longe do litoral, longe das academias e dos grandes museus, longe das grandes concentrações de monumentos nacionais e das rotas turísticas, longe dos aglomerados populacionais e das grandes escolas de letras. Precisamente por causa disso, por estarmos longe. Desenvolver aqui um projecto de história, aliás, um grande projecto de história com nível internacional e que permite dar estatuto à nossa terra é uma forma de amortecer todos aqueles aspectos negativos, de lutar contra eles. É uma forma de nós dizermos que estamos aqui apesar da nossa interioridade. Que resistimos aqui ao nosso despovoamento. É uma forma de afirmarmos a nossa cultura e de homenagearmos a daqueles que também aqui nos antecederam, viveram nos nossos montes e cultivaram os nossos campos, sofreram a interioridade e resistiram às difíceis condições da nossa terra.
Os Cadernos Terras Quentes são um instrumento e uma afirmação. Instrumento para falar de história e afirmação do projecto que entre nós se está a desenvolver. Com o concurso de especialistas de primeiro plano para quem a interioridade é um desafio e a nossa terra uma oportunidade dessa afirmação.
Tudo isto foi compreendido pela Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros e o seu apoio e partilha do nosso entusiasmo tem sido determinante para o sucesso deste empreendimento, sobretudo pelo empenho pessoal do senhor Presidente, Engº. Beraldino Pinto e pela Vereadora da Cultura, Engª. Sílvia Garcia.
Os Cadernos Terras Quentes e o portal da Associação “Terras Quentes” que iniciam a sua edição regular, aqui ficarão como testemunho do nosso trabalho e do empenho de todos. Aqui ficarão como instrumento das nossas vontades e afirmação da nossa história. Que a temos.
Manuel Cardoso
(Vice-Presidente da Direcção da Associação de Defesa do Património Arqueológico do Concelho de Macedo de Cavaleiros “Terras Quentes”)
2004