Os trabalhos de Antropologia surgem na Associação Terras Quentes por intermédio do GESP (Gabinete de Estágios e Saídas Profissionais) do ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa), segundo protocolo assinado a 31 de Janeiro de 2004. Os trabalhos desenvolvem-se segundo um plano pré-estabelecido de investigação programado para um ano de acção (Outubro de 2005 a Setembro de 2006), tendo sido proposto por uma aluna (à data do protocolo) da licenciatura de Antropologia do instituto acima referido.
Objectivo
Perceber a comunhão estabelecida entre os habitantes do Concelho de Macedo de Cavaleiros e o espaço geofísico que os envolve, considerando o conhecimento dessa realidade no tempo presente mas também no tempo passado.
Este projecto de cariz antropológico surge circunscrito ao perímetro de Macedo de Cavaleiros, contudo não se ignorará a permeabilidade e disseminação da cultura entre povos e gentes diversas.
Tomado consciência da permanente mudança da cultura macedense este projecto propõem-se a tomar medidas de prevenção que deverão vincar alguns traços relevantes dessa mesma cultura. Deste modo propõem-se acções de recuperação/reabilitação de antigos centros de acção humana, sugerindo a sua musealização, mas também a enfatização de ambiencias particulares do contexto macedence.
Metodologia
Os trabalhos na área de antropologia recorrem frequentemente a aparelhos de registo áudio, registo visual, registo audiovisual para além do tradicional bloco de notas e lápis. A recolha de material poderá passar também pela reprodução em formato de fotocópia de potenciais documentos históricos escritos que se encontrem na posse dos habitantes ou entidades do Concelho.
“A recolha do material será efectuada em três fases distintas, não necessariamente separadas no tempo: a visita às localidades procurando informações especificas; contacto com os habitantes procurando registar os seus relatos; procurar apoio teórico em obras de referência, buscando fundamentação teórica, similitudes e contrastes com outros contextos.”
A entrevista constitui uma metodologia fundamental na execução do trabalho antropológico, tanto como a pesquisa bibliográfica ou a observação participante.
Se o contacto com os habitantes do concelho é fundamental para obter informações, registar de forma completa e ordenada essa mesma informação não se torna menos importante. É através do levantamento do património etnográfico de uma região que se ganha consciência das potencialidades etnológicas contidas nesse mesmo perímetro, e das singularidades de uma população enquanto grupo cultural. Neste sentido este projecto propõem-se também a elaborar uma base de dados (inventário etnográfico) que dará a conhecer os bens existentes, tornando-os mais acessíveis para posteriores investigações.
Embora a consulta de obras de referência seja indispensável ainda antes de começar o trabalho prático da recolha etnográfica, a importância desta vai afirmar-se quando se entra no período concreto da ‘montagem’ das teorias etnológicas. É ao deixar respirar o material recolhido que sentimos necessidade de fundamentar ou confrontar com outras perspectivas, semelhantes ou não, à nossa própria visão. Por estas razões, este momento de reflexão, aparentemente infrutífero, é tão importante como a parte prática desenvolvida anteriormente. Com isto deve ficar claro que o trabalho antropológico não pára, é um trabalho contínuo, que não termina mal se deixa o campo, ao entrarmos dentro das quatro paredes iniciamos uma nova fase.
Algumas sugestões de temas específicos possíveis de desenvolvimento
Como foi referido anteriormente só depois de se conhecer o contexto em questão é que se pode começar a pensar em temas possíveis e interessantes de desenvolver. Ficam algumas sugestões, cientes porém da existência de muitos outros assuntos que deverão pairar por terras macedenses
- O azeite: uma imagem de marca ou um produto da Comunidade Europeia?
- A cultura do linho, a herança material e memorial
- Água, as fontes de mergulho: da necessidade estrutural básica da comunidade à constituição de local de encontro social
- O caminho de ferro, que passado de prosperidade
- Os fornos de cal, o ouro que colocou e retirou Vale da Porca do mapa
- A indústria da seda
- As casas brasonadas, a sua importância social e cultural ao longo dos tempos e a distinção social que proporcionaram.
- Quais as origens dos mouros transmontanos que de geração em geração se vão perpetuando na memória rural macedense?
Os períodos de trabalho de campo estarão em conformidade com os ritmos da população local quando o objectivo for procurar tomar conhecimento in loco com a cultura imaterial. Isto é, os períodos de observação dos rituais e afins ou ainda dos trabalhos sazonais, como a apanha da azeitona (e.g.), serão regidos segundo as temporalidades próprias da gente local. O levantamento do património edificado, por sua vez, poderá ser efectuado em qualquer outra época.
Etapas do projecto
O projecto deverá subdividir-se em quatro fases distintas (mas não necessariamente isoladas temporalmente):
- Levantamento do património etnográfico
- Restauro de possíveis pontos de interesse museológico
- Reconstrução em parcelas da história de vida dos macedenses a partir da elaboração de pequenos artigos exploratórios das diversas temáticas proporcionadas pela riqueza etnográfica e histórica do concelho.
- Exploração profunda de um aspecto social ou cultural singular do concelho de Macedo de Cavaleiros ou de um lugar ou de um grupo especifico, numa obra ao estilo de monografia.
Objectivos últimos
Explorando a história mais recente do concelho, porque a mais antiga deixamos a cargo dos arqueólogos, iremos redescobrir tradições, crenças, ritos e mitos que correm o risco maior que existe em qualquer cultura: o esquecimento. Erguendo velhas memórias pessoais e colectivas, materiais ou imateriais, deixaremos que elas nos digam o que sabem.
Para mostrar o interior das Terras Quentes a quem o constrói quotidianamente e aos outros que se encontram de passagem este projecto sugere a realização de exposições, palestras e visitas guiadas a locais de interesse, projecção de circuitos temáticos tornando possível o contacto directo com realidades diferentes e ainda a publicação de dados em periódicos locais e publicações especializadas (dando a conhecer Macedo a outros tipos de públicos).
Fazer crescer Macedo de Cavaleiros sobre si mesmo desvendando-lhe a sua própria realidade, que é simultaneamente próxima e longínqua, e deixá-lo a reflectir sobre ela é, talvez, o último grande objectivo deste projecto.