Necrópole do Sobreirinho
Comunhas, Freguesia de Edroso Macedo de Cavaleiros
Campanha 1/2003 – CNS 2022 – Relatório de Progresso
Carlos Alberto Santos Mendes [1]
1. INTRODUÇÃO
Na sequência da aprovação do projecto Terras Quentes pelo Instituto Português de Arqueologia, a intervenção neste arqueosítio processou-se entre dois períodos. Um primeiro, programado entre os dias 28 de Julho e 1 de Agosto e um segundo período entre 11 e 14 de Agosto. A acção decorreu no âmbito do protocolo e anexo estabelecido entre a Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, o Instituto Alexandre Herculano da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, A Associação de Defesa do Património Arqueológico “Terras Quentes”, a Associação dos Amigos do Museu Rural de Salselas e as Juntas de Freguesia de Ferreira, Cortiços, Edroso, Salselas, Vale da Porca, Lamas e Amendoeira, a quem agradecemos. Participaram nos trabalhos diversos alunos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e da Escola Secundária de Macedo de Cavaleiros, assim como sócios da Associação “Terras Quentes” e trabalhadores não especializados de arregimentação local.
2. LOCALIZAÇÃO
A necrópole do Sobreirinho localiza-se no lugar com o mesmo nome a SW de Edroso, (freguesia de Ferreira) e a SE
Aldeia de Comunhas a uma altitude de 663 metros, pertencente a Manuel Joaquim Rodrigues e Alice Pedro, as suas coordenadas correspondem a uma latitude de 41º 37´ 22´´ N e 6º 57´14´´ W da folha 64 da Carta Militar de Portugal escala 1:25.000. (fig1)
fig 1 localização da necrópole do Sobreirinho/Ferreira na folha 64 da CMP.
O arqueosítio foi relocalizado por Mário Rui Oliveira dos Reis Soares, funcionário da Extensão do IPA de Macedo de Cavaleiros em 2001, não avançando com propostas identificativas do sítio por dificuldades de localização, devido há grande cobertura vegetal encontrada no local. A única referência bibliográfica encontrada para este arqueosítio encontramo-la na tese de Doutoramento de Francisco Sande Lemos, [Lemos, 1993,pp 188] “ Povoamento Romano de Trás-os-Montes, onde assinala a existência no “Bovo de Comunhas” de duas sepulturas com fundo, paredes e cobertura, formados por lajes de xisto, atribuindo a sua cronologia ao período Medieval.
3. TRABALHOS
3.1 METODOLOGIA
Foi efectuada a desmatação em cerca de 500 metros quadrados, em zona que nos foi indicada por populares que teriam há cerca de 50 anos procedido á violação de pelo menos duas sepulturas. Contudo devido à grande densidade de coberto vegetal e, pelo facto do caminho antigo, em terra batida, ter sido deslocado há cerca de uma década, alguns metros, decidiu-se abrir com malha de um metro um quadrado de 2 metros por 2 metros, implantando-se o referencial, orientado segundo o Norte Magnético. Encontrado que foram vestígios de uma sepultura nessa quadrícula, decidiu-se ir abrindo em área, acabando-se por detectar 3 sepulturas, estando as sepulturas 1 e 3 completamente violadas, e a sepultura três só parcialmente.
Foi adoptado nesta intervenção arqueológica um método de registo de acordo com os preceitos definidos por Edward C. Harris [Harris,1991]. Como tal escavou-se de forma a proporcionar esse mesmo registo, ou seja, por unidades estratigráficas (UE), a unidade básica de registo. São consideradas UEs as realidades que, aquando da escavação, ou posteriormente, forem consideradas como realidades diferenciáveis. Entre estas contam-se depósitos (camadas naturais, de sedimento), estruturas ( negativas ou positivas), derrubes interfaces.
Apesar de inicialmente se ter privilegiado o registo gráfico de cada realidade de modo diferenciado, durante a intervenção, por questões de rentabilização de tempo ou, por vezes, para facilitar a melhor percepção da realidade, efectuaram-se desenhos compostos.
Todas as realidades diferenciadas, as Ues, foram alvo de um registo fotográfico que acompanhou as diversas fases da sua afectação pelas intervenções arqueológicas
No final dos traba lhos e afim de preservar as estruturas optou-se com cobrir estas com manta geotextil de 120 grs e aterrá-las com terra crivada, sobrante dos trabalhos de escavação.
3.4 Intervenção Antropológica
Na sequência da descoberta de restos osteológicos humanos, procedeu-se à sua exumação, trabalho efectuado entre os dias 11 e 14 de Agosto, pela Licenciada em Antropologia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e Mestre em Pré-História e Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Drª Nathalie Antunes Ferreira do qual resultou o seguinte relatório.
Titulo:
Os restos ósseos humanos da sepultura 2 da necrópole do Sobreirinho (Comunhas, Macedo de Cavaleiros.
Introdução:
Entre os dias 11 e 14 de Agosto de 2003, procedeu-se à exumação e ao estudo paleobiológico dos restos ósseos humanos da sepultura 2 da necrópole do Sobreirinho, que se localiza junto à povoação de Comunhas, no Concelho de Macedo de Cavaleiros.
Na escavação do esqueleto foi utilizado uma metodologia específica, aplicada à exumação de restos humanos em contextos arqueológicos. Os dados sobre o indivíduo foram registados numa ficha de esqueleto, onde se observaram o nível de representatividade dos ossos, o posicionamento do corpo, a orientação do corpo na sepultura, o sexo e a idade à morte, algumas patologias, os dados osteométricos, as perturbações pós-deposicionais, o espólio associado ao enterramento, etc.
Os restos esqueletizados foram decapados e escavados com colherins, espátulas, utensílios de odontologia e pincéis.
Caracterização do enterramento da sepultura 2:
Foram exumados da sepultura 2 alguns ossos muito fragmentados de um indivíduo, que constitui a U.E. 14 (figura 1). Este foi depositado numa sepultura escavada na rocha que foi, posteriormente revestida e coberta por lajes de xisto. A sepultura apresentava as seguintes dimensões: comprimento de 186 cm, largura da cabeceira de 60 cm, largura ao meio da sepultura de 45 cm, largura aos pés de 35 cm e profundidade de 45 cm.
O corpo foi colocado em decúbito dorsal e pela posição dos fémures é verosímil que as pernas estivessem estendidas, a orientação do corpo é SW-NE, com a cabeça na extremidade SW.
Foram registadas pelo menos duas perturbações pós-deposicionais: a violação intencional da sepultura, por volta dos anos 60 do século XX, que destruiu a parte superior da sepultura e a presença de raízes de calibre fino e médio que se encontravam por baixo e no interior dos ossos. Apesar destas perturbações os fémures encontravam-se na sua posição anatómica correcta. Foi, ainda, descoberto algum espólio associado ao enterramento: junto à área onde estaria a mão direita – se o membro estivesse estendido – recolheram-se fragmentos de um objecto em cobre/liga de cobre e abaixo dos pés descobriu-se uma moeda em cobre.
fig 2 Fémures do indivíduo da sepultura 2.
Análise paleobiológica do indivíduo da sepultura 2:
A análise paleobiológica incidiu sobre os três ossos recolhidos – duas diáfises de fémures fragmentadas e um pequeno fragmento de diáfise de cúbito ou clavícula esquerda.
O estado de conservação dos ossos é muito deficiente, as epífises desapareceram completamente, as diáfises estão muito fragmentadas e quebradiças e o periósteo destes ossos padeceu significativas alterações diagénicas provocadas pela libertação de secreções pelas raízes e pelas condições químicas do solo. Estas situações condicionaram o exame macroscópico realizado.
A diagnose sexual foi inviabilizada devido a ausência das regiões ósseas utilizadas nesta análise. Quanto à determinação da idade à morte podemos dizer que não se trata de um indivíduo com menos de 16 anos (devido ao comprimento dos ossos e espessura do osso cortical), não sendo possível afirmar que se trata de um jovem adulto, de um adulto maduro ou de um idoso.
No que concerne ao estudo morfológico, os fémures não são robustos apresentando uma tendência para valores médios. Realizou-se ainda o cálculo da estatura, muito grosseiro, porque o fémur direito 1 não estava completo. Assim, se se tratar de um indivíduo do sexo masculino apresentaria uma estatura de cerca de 163 cm se pelo contrário, for um indivíduo do sexo feminino mediria aproximadamente 161 cm. Todavia, esta estimativa não deve ser considerada muito credível, já que o osso está fragmentado, sendo meramente indicativa.
No exame das paleopatologias apenas foi viável examinar a presença/ausência das fracturas ósseas e das infecções, não tendo sido observadas nenhumas destas enfermidades.
1 Aplicação da metodologia de Mendonça (2000), utilizando o comprimento do fémur (440cm)
4. INTERPRETAÇÃO PRELIMINAR
Enquadramento histórico medieval
O carácter senhorial e autonomista de toda a região Brigantina que se estendia a Leste até à área Leonesa, limitando-se na parte meridional pelo Alto Douro (região de características diferentes), marcou transversalmente toda a nossa primeira dinastia. O centro espiritual das suas terras situava-se no Mosteiro de Castro de Avelãs, cuja igreja contrasta fortemente com as Igrejas Românicas Portuguesas.
No século XII aparecem famílias notáveis entre outras, os de Albuquerque, de Chacim, de Portocarreiro, de Vasconcelos, de Bornes e os Braganças, [Matoso;1995:187] estes, bem podiam comparar-se em riqueza, prestígio e força militar, a alguns senhores típicos da França ou da Alemanha. [Marques; 1995:82]
O sistema senhorial de transmissão da propriedade, de alianças e de apropriação dos poderes públicos, mostrou-se eficaz e com enorme capacidade de expansão, crescendo que vai de 1096 até à guerra civil de 1245. Como afirma José Matoso, o Norte já estava saturado de Nobres.
A terra e a Igreja eram dos cavaleiros e de outros homens que não pagavam ao Monarca (inquirições 1358/1359) [Matoso:1995:186], Também esta terra era de transição entre a zona senhorial, cujo âmago estava para lá do Marão e a zona das velhas e resistentes comunidades que em Trás-os-Montes se mantiveram até durante a primeira metade do século XIII, implantando-se aqui uma estrutura social dominada por privilegiados. Até que ponto esta aparente autonomia política, na região transmontana, teria influenciado os actos e costumes da ritualização da morte, comparativamente a outros análogos em zonas mais meridionais do País.
Antropologia funerária
Pelos meios que mobiliza, pelas representações que induz, quanto à sua natureza e origem, pelos fantasmas e imagens que suscita, pelos meios que mobiliza para se recusar ou ultrapassar, a forma de lidar com a morte (ritualização) é desde sempre e, primeiro que tudo, um acto cultural.
A forma de conviver com esse momento de ruptura, tem sido objecto de atitudes ritualizadas sempre (quase sempre) no sentido de tornar a morte suportável aos sobrevivos – o sossego dos mortos é a paz dos vivos – [Machado; 1999:12]. Diz a quadra popular transmontana, que aliás fará parte do património espiritual da Nação, “ Quem os seus mortos esquece, não tem alma de cristão” [Teixeira;1981:124]
Assim parece despiciente os períodos cronológicos e as suas conjunturas políticas, os quais poderão ter a mais a ver com alguma moda ritualizante da morte, mas por certo pouco a ver com o intimo e sentir de cada um.
Pelo facto da morte e dos seus rituais ser um acto cultural, parece-nos de primordial importância para o estudo da época, e da história das mentalidades a intervenção arqueológica numa necrópole.
Desde a pré-história recente que o ser humano teve como ritual da morte, (pelas mais variadas razões) fazer acompanhar o defunto com ofertas votivas. Mais recentemente, desde a Antiguidade Clássica, que é usual a colocação de uma moeda, no corpo ou nas cinzas do defunto destinada a pagar a passagem para o outro mundo (mundo dos mortos). Desde o principio da Nacionalidade que esse hábito está entre nós, com varias designações; “ Para pagar o Caronte, moeda que pode estar colocada no fundo do caixão, dentro dos bolsos, ou colocada sobre os olhos, e/ou na boca, e que era destinada a passar o campo de Josafaz e mete-la na boca do Diabo, que está lá de guarda” [Machado 1999:19]. “Moeda para o Barqueiro, destinada a pagar o transporte de uma suposta barca que levasse o defunto para o outro mundo ”. “Para pagar a passagem da ponte do caramelo, (em Macedo de Cavaleiros usam-se as expressões, carambelo e carambina), nome dado aos pingentes de gelo que é usual ver-se nos meses de Inverno nos arbustos árvores, beirados dos telhados e tanques de água” [Coixão:1999:10], São hábitos ritualizadas que perduraram até aos nossos dias, atente-se que a recolha de António Coixão foi efectuado em 1992, na zona de Freixo de Numão.
Nas campanhas de intervenção arqueológicas da Quinta de S. Pedro, nas proximidades de Corroios (Seixal), que resultou na identificação de 112 sepulturas medievais, primárias e secundárias, Luís Raposo, detectou moedas votivas que vão desde D. Afonso III (1248-1279) a D. Afonso V (1438-1841) [Raposo e Duarte;1998:38]. Não podemos pois, falar de um fenómeno regional (transmontano) mas, eventualmente, de um ritual generalizado desde há muito no nosso País.
Necrópole do Sobreirinho.
Uma primeira nota para o topónimo referenciado na base de dados do Instituto Português de Arqueologia. Assim, esta refere-se ao CNS 2022, como “Sobreirinha”, na realidade não só a palavra não existe, como o lugar é conhecido e está registado no Cadastro da Repartição de Finanças de Macedo de Cavaleiros como “Sobreirinho”.
Este arqueosítio é citado pela primeira vez em [LEMOS e OLIVEIRA, 1984], e volta a ser referenciado por Sande Lemos na sua tese de Doutoramento, catálogo, pp 188 e 189, com a denominação Bovo de Comunhas (170), refere-se á existência de duas sepulturas com fundo, paredes e cobertura, formados por lajes de xisto e, atribui-lhe a designação de necrópole com cronologia medieval.
Integrado no “projecto Terras Quentes” a intervenção arqueológica neste arqueosítio foi efectuada em dois períodos; primeiro, entre os dias 28 de Julho e 1 de Agosto e motivado pelo aparecimento de material osteológico, havendo necessidade de recorrer ao concurso de uma especialista em antropologia física, para fazer a exumação dos restos das ossada humana, trabalho realizado entre 11 e 14 de Agosto.
O sítio encontrava-se revestido dum coberto vegetal denso, composto sobretudo de giestas e estevas, o que dificultou a interpretação dos dados fornecidos por um habitante local “ Sr. Américo” pessoa que protagonizou a violação de (na sua memória) duas das sepulturas, nos anos 60 do século XX.
Começou por ser aberto, com orientação ao Norte Magnético uma quadrícula (com malha de um metro de lado) com dois metros de lado, tendo-se detectado no canto inferior direito da quadrícula, um esteio, que mais tarde se veio a verificar ser dos pés da sepultura 1, o que motivou a necessidade de se alargar a área de escavação em mais 6 m2 na direcção Sul.(quadrículas 497/299-300-301 e 498/299-300-301).
Assim, foi possível detectar e escavar três sepulturas (1,2, e 3), sendo que todas elas já tinham sido violadas, embora uma delas (sepultura 2) ainda se encontrasse intacta em cerca de 30% do seu comprimento ( lado dos pés, NE).
A sepultura 3, situada na parte mais a Norte da área intervencionada, para além do corte na rocha, em perfeita simetria com os cortes das sepulturas 1 e 2, não apresentou quaisquer vestígios materiais ou de construção (esteios) provavelmente terão sido deslocados aquando da violação.
O facto da simetria dos cortes – alinhamento pelos pés – (como se pode verificar no desenho nº 2 em anexo) assim como a sua proximidade, poderá indiciar-nos enterramentos simultâneos e coevos. Outro aspecto de realce é a metodologia construtiva utilizada, que não sendo original, não será muito comum. Encontramos análogos em Mogadouro, na necrópole medieval de Vila dos Sinos, todavia sendo também localizada num substracto de xisto, tem um fundo rochoso (sepultura 13) [Lemos 1982:135]. Também não serve de análogo as tipologias das sepulturas Tipos I; II; III, IV e V, do Adro da Igreja de Freixo de Numão, pois encontram-se em substracto granítico, assim como se verifica alguma similitude com a sepultura 6, 8 e 9 e sobretudo com a sepultura 11 da necrópole medieval de S. Caetano, onde esta última ao contrário das restantes que apresentam fundo rochoso, está guarnecida no seu leito por lajeado [Lemos:1987:158,160].
Também encontramos alguma similitude com a necrópole medieval do Prazo, sobretudo com as sepulturas Tipo 3-B, sepulturas construídas com lajeado de xisto alinhadas e dispostas na vertical, tendo como cobertura tampas de xisto, sepulturas 4, 9, 12, 14, 18 e 20, sendo-lhes atribuída uma cronologia que aponta para os séculos XII/XIII.
Se a sepultura 3 do Sobreirinho não mostrou quaisquer vestígios sobre o método construtivo, já nas sepulturas 1 e sobretudo a sepultura 2 (por se encontrar em parte inviolada), foi possível retirar ilações da forma da sua construção. Assim, após ter-se aberto uma caixa com medidas superiores ás necessidades da confecção do sepulcro, foram colocados esteios laterias, pés e cabeceira, em cima de uma base de lajes utilizando material (xisto grauváquio) não encontrado no local, mas a cerca de um quilómetro do local da sepultura, de várias dimensões. Foram atacado os espaços entre o talhe na rocha e os esteios, pés e cabeceira, e para compensar as diferenças de altura para deposição das tampas? Estas foram calçadas com pedra mais miúda, argamassada.
Trata-se de um método bastante exigente em termos energéticos, o que poderá indiciar, algum mérito social dos defuntos.
Dimensões da sepultura 2
– Comprimento: 186 cms
– Largura da cabeceira: 60 cms
– Largura do meio da sepultura: 45 cms
– Largura aos pés: 35 cms
– Profundidade (altura) : 45 cms
Espólio
Foram encontrados e exumados na parte violada da sepultura 2, duas diáfises de fémur fragmentados e um pequeno fragmento de diáfise de cúbito ou clavícula esquerda.
O corpo foi colocado em decúbito dorsal e pela posição dos fémures é verosímil que as pernas estivessem estendidas, a orientação do corpo é SW-NE, com a cabeça na extremidade SW.
Da análise paleobiológica que incidiu sobre os três ossos recolhidos do indivíduo da sepultura 2 foi possível chegar ás seguintes conclusões: O estado de conservação dos ossos é muito deficiente, as epífises desapareceram completamente, as diáfises estão muito fragmentadas e quebradiças e o periósteo destes ossos padeceu significativas alterações diagénicas provocadas pela libertação de secreções pelas raízes e pelas condições químicas do solo. Estas situações condicionaram o exame macroscópico realizado.
A diagnose sexual foi inviabilizada devido a ausência das regiões ósseas utilizadas nesta análise. Quanto à determinação da idade à morte podemos dizer que não se trata de um indivíduo com menos de 16 anos ( devido ao comprimento dos ossos e espessura do osso cortical), não sendo possível afirmar que se trata de um jovem adulto, de um adulto maduro ou de um idoso. Realizou-se ainda o cálculo da estatura, muito grosseiro, porque o fémur direito não estava completo. Assim se se trata de um indivíduo do sexo masculino apresentaria uma estatura de cerca de 163 cm se pelo contrário, for um indivíduo do sexo feminino mediria aproximadamente 161 cm. Todavia, esta estimativa não deve ser considerada muito credível, já que o osso está fragmentado, sendo meramente indicativa.
No exame das paleopatologias apenas foi viável examinar a presença/ausência das fracturas ósseas e das infecções, não tendo sido observadas nenhumas destas enfermidades.
Foi ainda descoberto, junto à área onde estaria a mão direita – se o membro estivesse estendido, fragmentos de um objecto em cobre/liga de cobre , que não foi possível identificar. Abaixo dos pés descobriu-se uma moeda em cobre.
(moeda exumada na sepultura 2 da necrópole do Sobreirinho)
Moeda que se encontra actualmente em exposição no Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros “Expo Arqueologia 2003” , após ter sido sujeita a acção de limpeza e conservação no Museu Monográfico de Conímbriga.
O seu estado de conservação é muito deficiente, não sendo possível detectar qualquer elemento identificativo no seu verso, no anverso é possível delinear uma cruz dentro de uma cercadura circular que marginava a moeda, hábito que encontramos nos “dinheiros” desde Afonso VII de Leão e Castela (1126-1157), Afonso I de Portugal (1139-1185), Afonso VIII de Castela (1158-1214), Fernando II de Leão (1157-1188), Sancho I de Portugal (1185-1211), desaparecendo com Afonso II de Portugal (1211-1223) e com Sancho II (1223-1248) reaparecendo com Afonso III (1248-1279), D. Dinis (1279-1325), terminando o hábito com Afonso IV de Portugal (1325-1357).
Por estas razões e na ausência de melhor informação a questão cronológica da necrópole do Sobreirinho, ficará em suspenso até novas intervenções, podendo-se adiantar com alguma margem de erro, para um período entre 1126 e 1357 da nossa Era.
Esta intervenção arqueológica, foi fiscalizada pelos serviços do Instituto Português de Arqueologia (IPA) extensão de Macedo de Cavaleiros no dia 31 de Julho, pelos Drs. Mário Reis e Luís Pereira, que não nos deram conta da existência de qualquer anomalia técnica ou de procedimentos.
5. Bibliografia
COIXÃO, António do Nascimento Sá
Rituais e cultos da morte na região de Entre Douro e Côa, Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Freixo de Nomão, 1ª Edição, Freixo de Nomão , 1999
LEMOS, Francisco de Sande e Marcos, Domingos
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LEMOS, Francisco de Sande
A necrópole de S. Caetano, Cadernos de Arqueologia, Série II V 4 Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho e Museu D. Diogo de Sousa, Braga, 1987, pp. 149-176
LEMOS, Francisco de Sande
Povoamento Romano de Trás-os-Montes Oriental, Volume Iia – Catálogo – Introdução Distrito de Bragança – Tese de Doutoramento – Universidade do Minho, Braga, 1993
MACHADO, Carlos Alberto
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MATOSO, José
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MARQUES, A H. De Oliveira
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MENDONÇA, M.C. – Estimation of height from the length of long bones in a
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TEIXEIRA, António José
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RAPOSO, Luis e DUARTE, Ana Luisa
Necrópole da Quinta de S. Pedro, Al-madam II Série nº 7, Centro de Arqueologia de Almada, Almada, Outubro de 1998, pp 37-46
UBELKER, D (1989) – Human Skeletal Remains: Excavation Analysis, Interpretation, Washington: Taraxacum Washington. 2000
VAZ, J. Ferraro
NVMARIA, Medieval Portuguesa 1128-1383 Tomo I – publicações numismáticas do autor, Lisboa MCMLX
VAZ, J. Ferraro
NVMARIA, Medieval Portuguesa Tomo II – publicações numismáticas do autor, Lisboa MCMLX
LISTA DE PARTICIPANTES
Carlos Alberto Santos Mendes Lic em História Variante de Arqueologia
João Pedro Tereso Lic em História Variante de Arqueologia
Nathalie Antunes Ferreira Lic em Antropologia
Jorge Cancela Lic em Arquitectura Paisagísta
Manuel Sousa Cardoso Lic em Medicina Veterinária
Joana Margarida Gomes 4º ano Lic História e Arqueologia FLUL
Nídia Maria Santos 4º ano Lic História e Arqueologia da FLUL
Ana Luisa Gaspar 4º ano lic Antropologia UNL
Angela Graça S. Ginja 3º ano lic História e Arqueologia da FLUL
César Vila Franca 11º ano da Escola Sec de Macedo de Cavaleiros
Carlos Miguel Vila Franca 9º ano da Escola Sec de Macedo de Cavaleiros
Igor Alexandre Martins 10º ano da Escola Sec de Macedo de Cavaleiros
Óscar Santos Gonçalves Arregimentação local
Jerónimo Gonçalves Arregimentação local
ELEMENTOS GRÁFICOS
Fotos
(Necrópole do Sobreirinho – zona de intervenção, antes do inicio dos trabalhos)
(Quadrícula inicial – 499/299-300 e 500/299/300)
(Sepultura 1 à esquerda e sepultura dois á direita após levantamento da tampa)
(sepultura 2 antes do levantamento da tampa de cobertura)
(fase dos trabalhos – levantamento da tampa da sepultura 2)
(fase dos trabalhos de exumação dos restos osteológicos)
(cobertura com manta geotextil das áreas intervencionadas)
(fase de trabalho na sepultura 2, e visita de populares ao local das escavações)
[1] Licenciado em História Variante de Arqueologia pela F.L.U.L. e responsável pelo projecto Terras Quentes.