Apresentação do Projecto
No âmbito do protocolo firmado entre a Associação Terras Quentes, a Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros e o Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa a 19 de Maio de 2004, decorre o Inventário do Património Histórico-Artístico do Concelho de Macedo de Cavaleiros.
Este projecto, com duração de quatro anos, pretende proteger e preservar a integridade física das manifestações histórico-artísticas do concelho, desaconselhando práticas lesivas enraizadas que se observam nos locais onde se processam os trabalhos de inventariação, como por exemplo a utilização de produtos corrosivos (lixívia, amoníaco) e outros nas limpezas dos retábulos ou, para o mesmo efeito, no uso de objectos abrasivos em esculturas de madeira dourada e policromada dos séculos XVII, XVIII e XIX.
Pretende de igual modo, aconselhar e acompanhar obras de reestruturação, manutenção e consolidação que se operem no património do concelho, de forma a tentar minorar os efeitos negativos das mesmas.
É também nosso dever dotar o município de um instrumento monográfico capaz de satisfazer as suas mais diversas necessidades, sendo útil na promoção cultural do concelho e do distrito (onde se insere) e/ou na consulta administrativa.
Por outro lado, ao se proceder ao inventário histórico-artístico do concelho contribui-se para o enriquecimento da historiografia local e regional, bem como nacional, não tanto pelos dados em si recolhidos, mas sobretudo pela importância que estes possam vir a ter como elementos chave na produção científica ou historiográfica.
Não menos importante é homenagear os inúmeros artificies/artistas (muitos deles incógnitos) que ao longo dos tempos laboraram no concelho de Macedo de Cavaleiros nos mais diversos domínios artísticos (arquitectura, escultura, pintura, cerâmica, têxtil) reconhecendo, valorizando, estudando e divulgando o seu trabalho, bem como reabilitar a figura do encomendante, que em muitos casos detém uma importância maior do que inicialmente se julgava e aparentemente se cria, pois não são raros os casos em que o artista/artificie segue as indicações deste.
Em qualquer caso, as consultas nos arquivos (Diocesano, Distrital e Nacional) e bibliotecas do país são imprescindíveis para uma avaliação mais completa e fidedigna dos bens culturais. Porém, existem situações em que esta consulta assume menor importância pelas poucas dúvidas de datação e de estilo que se levantam durante a análise. No nosso caso, isto é, no caso macedense, em termos estilísticos o património existente não levanta dúvidas de maior, contudo o mesmo já não acontece na datação a fixar e é exactamente neste ponto mais problemático que os documentos nos prestam uma ajuda insuperável e garantias que, de outro modo, não poderíamos nem obter, nem dar. A explicação para esta dificuldade não é simples, grosso modo, passa pelo ajustamento de um estilo estrangeiro ou estranho a uma realidade regional e/ou local, com o seu gosto e sensibilidade próprio e, como tal, pouco permeável a modas que tão pouco conhece. Ora, ao considerarmos esta situação não podemos negar a importância extrema que a recolha documental e bibliográfica tem para o desenvolvimento deste ou doutros projectos semelhantes, verificadas as mesmas condições. Deste procedimento, advém outros conhecimentos, tais como, a obra em causa, o nome dos artistas/artificies e a sua proveniência, dos encomendantes, os pagamentos envolvidos, a duração dos contratos, etc. Com base nas mesmas informações, é possível ainda atribuir autorias estabelecendo comparações.
Porém, a grande preocupação deste projecto é, como o próprio nome indica, a inventariação do património concelhio, quer este seja privado ou público, religioso ou laico, móvel ou imóvel, medieval ou contemporâneo, erudito ou não erudito, danificado ou íntegro. As razões pelas quais este inventário assume tamanha importância na estratégia de acção das instituições envolvidas no mesmo são várias, sendo as principais: o conhecimento, a divulgação e a protecção do património. Houve, contudo, critérios de selecção nos objectos ou no património a ser inventariado, não se procedendo ao seu registo total.
Critérios de Selecção
A opção de não se proceder ao registo total dos bens do concelho é sempre polémica, pois ao fazê-lo se está a valorizar uma parte em detrimento doutra, mesmo que a parte excluída tenha fraca expressão numérica, o que não é o caso. Esta opção se torna ainda mais polémica quando vemos servir de critério de selecção, para as oito áreas do inventário (Arquitectura, Escultura, Pintura, Cerâmica, Têxtil, Documentação Gráfica, Mobiliário e Ourivesaria), a relevância histórica e artística, algo tão discutível quanto subjectivo. No entanto, apesar da selecção ser feita em moldes que, à primeira vista, podem parecer pouco criteriosos, não deixa de servir os interesses gerais do concelho e menos dos particulares, isto é, privilegia o património público e de características públicas face àquele privado e de características privadas. Podia-se também afirmar que se dava igualmente preferência à antiguidade e menos à modernidade, à criatividade e menos à “cópia”, ao bom estado de conservação e menos à degradação e que o mesmo se verificava com a qualidade plástica, com a nobreza dos materiais ou com qualquer estilo específico, contudo isto não corresponde à verdade deste inventário. O que existe é uma análise caso a caso, em que se considera e analisa o percurso de vida da peça ou do objecto, a sua importância, a sua razão de existir, a sua progressão e as suas repercussões na vida das pessoas e na arte. São estes os factores de selecção, os mesmos que determinam a relevância histórica e artística de qualquer objecto.
Fichas de Inventário e Campos de Preenchimento
Tendo como preocupação central a uniformização na forma de organizar, classificar e consultar dados e informação de bens patrimoniais, de acordo com a lei 107/2001, este inventário teve em consideração as propostas de normalização destas matérias de alguns organismos públicos, tais como: o Instituto Português de Museus (I.P.M.), o Instituto Português do Património Arquitectónico (I.P.P.AR.) e a Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais (D.G.E.M.N.). Porém, houve a preocupação em ajustar os campos de preenchimento propostos por estes organismos a uma realidade específica e às amplas características deste inventário e como “o inventário é um processo em permanente aperfeiçoamento” (I.P.M), sentiu-se a necessidade de criação de novos campos.
Metodologia
Podemos dividir este inventário em três fases, recolha de dados no terreno, recolha de informação nas bibliotecas e arquivos do país e, por último, a análise e sistematização de toda a informação recolhida no terreno e na documentação encontrada, por forma a torná-la acessível e compreensível a um vasto público. Na primeira fase selecciona-se as peças a inventariar, procede-se à recolha de diferentes medidas (peso, altura, largura, profundidade), bem como à recolha fotográfica em diferentes ângulos, descreve-se e anota-se sumariamente as características físicas, estilísticas e plásticas das peças e atribui-se a cada uma um número de inventário, alfanumérico, que reúne várias informações úteis, tais como: Distrito, Concelho, Freguesia, Localidade, Localização, Título, etc. Os campos que não são preenchidos nas recolhas de campo e aqueles que apenas sumariamente o são, ver-se-ão desenvolvidos numa fase posterior, pois carecem de informações extra que o objecto em análise não pode proporcionar (autoria, data, encomendante, bibliografia, etc.).